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Os impactos positivos da conectividade digital

  • Foto do escritor: Instituto Repartir
    Instituto Repartir
  • 29 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de ago.

Como a democratização do acesso à internet molda um futuro mais inclusivo às juventudes


Por Laura Fernandes

Sou uma jovem preta de São Gonçalo dos Campos, no interior da Bahia, de uma família classe média baixa. Cursar uma universidade para mudar minha realidade social sempre foi um sonho. E um grande desafio, considerando que, no Brasil, só 18% dos jovens negros entre 18 e 24 anos estão no Ensino Superior (IPEA, 2020). Seis em cada 10 jovens negros sequer conseguem concluir o Ensino Médio (Todos pela Educação e IBGE, 2012-2022). Entre tantos obstáculos está a exclusão digital.


Um estudo realizado pela PwC e Instituto Locomotiva sobre o Abismo Digital no Brasil mostra que apenas 20% da população brasileira têm a garantia de acesso a uma conexão estável e rápida. Ao mesmo tempo em que o acesso é desigual, projetamos que, no mundo, a participação de novas profissões ligadas à digitalização quase dobrará em pouco tempo (Future of Jobs Report, 2020).


A inclusão digital tem muitos significados para a minha vida. Significa ter conseguido estudar em um período de pandemia em que muitos colegas ficaram pelo caminho. Significa executar atividades diárias essenciais, como buscar informações, fazer pesquisas. Significa uma oportunidade de trabalho de forma remota. Mas sei que sou exceção à regra. A mudança precisa ser estrutural e para todos. E é urgente!



Para além do esforço individual, uma ação conjunta e articulada


Pelo Índice de Privação Online, presente no estudo sobre o Abismo Digital no Brasil, faço parte do grupo Subconectados, composto por 41,8 milhões de brasileiros. São pessoas, em sua essência, negras, das regiões Norte e Nordeste do Brasil, das classes C e D, e com menos escolaridade. Pessoas com uma estrutura de acesso deficiente; sem equipamentos adequados, como computadores; e sem recursos financeiros para a contratação de planos de internet mais rápida.



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Há cinco anos, eu e minha família utilizávamos uma conexão atrelada à linha telefônica, que possuía apenas 1 megabit de internet. Isso nos permitia navegar por sites, redes sociais, e-mails. Em 2021, durante a pandemia de Covid-19, surgiu a necessidade de uma banda larga com maior eficiência, para que eu pudesse prosseguir meus estudos. Foi um importante esforço financeiro de minha família para atender a essa demanda. Ainda assim, uma conexão com algumas instabilidades.


Mas nem todas as famílias conseguem, de forma individual, mudar esta realidade. Permanecerão nas estatísticas da exclusão. 


Se o fortalecimento da educação e do mercado de trabalho passam pela conectividade digital e se queremos que este acesso seja amplo e democrático, combatendo um problema que é estrutural, entendo que a solução esteja na articulação de diferentes agentes: o poder público, as empresas, a sociedade como um todo, caminho bem identificado pela PwC e pelo Fórum Econômico Mundial no estudo Abismo Digital no Brasil. É necessária uma ação conjunta para que a minha história de inclusão seja também a história de tantos outros jovens pelo Brasil.



O acesso digital para a inclusão educacional e produtiva


Durante o período pandêmico, acessar plataformas educacionais online – salas de aulas virtuais e de videoconferência – tornou-se uma realidade. Após o período de seis meses de aulas suspensas, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde estudo, retomou as aulas em formato remoto e experimental. Com uma conexão mais rápida, mantive a frequência nas aulas. Neste momento, contudo, revelaram-se disparidades significativas de acesso digital e vários estudantes abandonaram as disciplinas que cursavam.


Minha inclusão digital ampliou também o meu acesso ao mercado de trabalho, abrindo portas para novas oportunidades econômicas e profissionais que antes pareciam inacessíveis. Além de fazer muitos cursos online, atuei como estagiária no Instituto Repartir, organização localizada em São Paulo. Com acesso à internet, consigo romper as barreiras geográficas, permitindo que o meu trabalho – do interior da Bahia – chegue a diferentes localidades do Brasil.


Essa oportunidade não apenas tem ampliado as minhas perspectivas de carreira, mas também tem me permitido alcançar maiores estabilidade e independência financeiras. 


Finalmente, a inclusão digital transcende o aspecto tecnológico e atinge uma questão de empoderamento. Esta inclusão me proporciona a oportunidade não apenas de aprender, crescer e prosperar, mas também de contribuir para a construção de um mundo melhor. Vamos fazer esta construção de forma conjunta?




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Laura Fernandes, 27 anos, é baiana de São Gonçalo dos Campos e graduada em Jornalismo na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Foi estagiária do Instituto Repartir




 
 
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